domingo, fevereiro 20, 2011

Há vida inteligente fora da internet?

“Se eles existem, onde estão”? (Henrico Fermi, físico, em outro contexto, porém, válido para a questão do título.)

Andrea Trompczynski
Gosto de blogs. Blogar é escrever. Gosto de pessoas que escrevem. Mais ainda de pessoas que falam sobre quem escreve, sobre o ato de escrever. Escrever vai além da fala, vai além do pensamento, mais do que imagens ou palavras ditas, a escrita me prende a atenção, e me parece ser a forma de comunicação mais perfeita: é pensamento feito e refeito e escolhido a dedo. Sinto a trepidação das engrenagens do cérebro na escrita, e leio tudo, tudo.
Sinto saudades das antigas conversas longas, porque as pessoas nâo têm mais tempo para conversas longas. Não há, no mundo comum, assuntos que rendam as velhas e boas conversas. Um bom blog, é uma conversa daquelas. Não, não é um monólogo do autor, você pode realmente conversar com ele. Ouví-lo antes, o quanto desejar, responder, continuar o assunto, comentar. Deixar que alguma idéia sua se transforme, aos poucos, convencendo-se, ou discordando completamente, reafirmando sua opinião pessoal, ouvindo-a argumentar em defesa de si própria, na sinfonia das delícias solitárias do raciocínio, ou, ao menos, rir de si mesmo e do mundo. Pode conversar com o autor, escolher as palavras para não haver mal-entendido. Talvez as escolher exatamente para que haja. Como ele, antes, as escolheu. É mais íntimo que um site e diferente do jornalismo ou da literatura tradicional, porque o autor está ali, caloroso. Talvez você possa ver uma foto dele ou de alguma viagem que fez, como antes, quando as pessoas mostravam fotos para os convidados, na sala, durante um chá.
É simples assim: os blogs são feitos por pessoas que são, para mim, mais interessantes do que meus vizinhos ou colegas de trabalho. Quase não encontro pessoas que pensam! Vida inteligente, diferente das pessoas que concordam com tudo e que não estão acostumadas à discussão de idéias. Alguns são os novos polemistas, como os da época dos duelos intelectuais ou das grandes brigas de Sílvio Romero e José Veríssimo. Outros, são agradáveis de ler, e só por isso, valem todas as horas despendidas procurando-os. Dizem coisas que me interessam ouvir. Simplicíssimo assim.
Os blogs que estão em "Meus Favoritos" são:
Petrarca, porque ela é doce. Brincando com o filho no hall do prédio ou transando amarrada à uma mesa, ela é doce. Escreve de um modo tão feminino que, no início, cheguei a pensar ser um homem fazendo uma personagem mulher. Era perfeito demais. Erótico e maravilhosamente bem-escrito.

Bar-delta-bar, de Diego Navarro. Há uns dias, eu tentava sanar uma dúvida sobre a Teoria do Caos, quando fui abençoada pelo Deus Googlecom um tesouro. Orei ao Onisciente para que a intelligentsia brasileira, ainda em dúvidas sobre blogs, o lesse, e deixasse cair seus queixos, como caiu o meu. Texto perfeito, idéias geniais. Um achado! 
O Carapuceiroblog novinho em folha do Xico Sá, também cronista doBlônicas. O Xico tem meu estilo favorito: simplicidade de forma. Algumas frases dele são para ler muitas vezes e pensar em "como é ele conseguiu colocar todo esse pensamento em meia dúzia de palavras?". Para os iniciantes em Xico Sá, recomendo o "Manual de Civilidade Destinado às Meninas para Uso nas Escolas". 
Querido Leitor, da Rosana Hermann. Fico impressionada com a dedicacão da Rosana, há vários posts no dia. Ela tem grande parte da culpa por minha mudança de opinião sobre blogs, me contaminou a paixão dela por eles, e, já dividíamos a paixão pela internet. Ela posta desde dicas úteis sobre computadores, links dos primórdios da rede, textos sobre tudo e sobre nada, até receitas de bolo. Suspira resignada com a ignorância do Mundo Lá Fora, que nunca ouviu falar da mulher do "Sanduíche-iche-iche" (oh, Mundo Lá Fora, o quanto estais a perder...). 
Lendo Lewis: John Santos teve a idéia de ler As Cartas do Inferno de C.S. Lewis e postar carta por carta, com comentários dele e dos leitores. Quando estou em dúvida se blogs são ou não literatura, leio este. 
Blog do Ricardo Noblat, jornalista que migrou para a internet. O Noblat é outro que não deve dormir, dedicadíssimo que é ao blog. E não dormiu mesmo, nas 24 horas do dia do aniversário da morte de Tancredo Neves, numa cobertura de posts minuto-a-minuto e depoimentos de pessoas que estiveram lá, relembrando o momento político com todos os detalhes. Fez o mesmo nas 24 horas que antecederam o dia 15 de março, aniversário de 20 anos da "posse" que nunca houve e marcou o início da nossa democracia capengante. Ele é responsável por um furo que entra pra história dos blogs, por ter publicado há poucos dias, o escândalo das denúncias de Roberto Jefferson antes de todos os jornais.
Rafael Galvão, porque, da epidemia de blogs políticos, é o único realmente bom. São dele meus posts prediletos sobre cinema, literatura e televisão, e há também boa ficção do autor.
Alexandre Soares Silvablog repleto da ironia fina imitada por muitos. Todo mundo lê o Alexandre, e quem não lê, deveria ler. Impossível não ser influenciado por ele, já me flagrei arrancando os cabelos das têmporas e gritando "quem vai manter o status quo agora?", e, numa outra ocasião, chamando o Jebediah. Alexandre fez história na internet com seus delírios hollywodianos e pitadas de política.
Blog do Mr. Manson: para quem ainda pensa que Mr. Manson é um doido brincalhão, engana-se. "É prova de inteligência saber ocultar a nossa inteligência", La Rochefoucauld diria estarmos enganados em tomá-lo por humorista. Quem ri do tamanho de nossa ignorância é ele, e creio que ainda não o entenderam. É o Andy Kaufman da internet. 
Como ensinou o profeta Lourenço Mutarelli, farei uma previsão através da figura de meu maço de cigarros, hoje, um rato morto. A internet vai infestar-se de blogs horríveis. Como as bancas infestaram-se de revistas imbecis e as livrarias de livros medíocres. Não acredito que isso mudará alguma coisa para quem é bom escritor e bom pensador. Afinal, o mundo infestou-se de pessoas que fazem as tais revistas, filmes, livros e programas televisivos ruins. A vida inteligente, seja em que veículo de comunicação for, sobreviverá. Em meio a páginas sobre como obter auto-confiança, um perfil de Débora Secco e comentários políticos insossos, um ser inteligente, um pouco escondido, estará escrevendo para outros seres inteligentes. Minha visão é clara: Mr. Manson, que será o dono de toda a mídia de massa, fará essa concessão. 

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Andrea Trompczynski – O livro é um prazer sensorial para mim. Capas antigas, o cheiro, anotações. Meu sonho de consumo é uma primeira edição de Finnegan's Wake, com anotações, nas margens, da Lígia Fagundes Telles. Não há arte maior que a literatura. Não há arte mais intensa e nem mais difícil. É a única e verdadeira arte. Escrever. Vou em teatro, ouço música, sim. Mas até a HQ para mim está acima da música. Não adianta. No princípio era o verbo. Os homens são minha forma favorita de design. Não a humanidade, os homens. Anti-feminista convicta, acredito que as super-mulheres perdem o que há de melhor nos homens. Passei por essas fases de queimar sutiã e hoje vejo que certa estava minha avó, não se deve lutar contra a natureza. Tenho uma estranha sensação de déjà-vu quando conheço coisas novas, é sempre como se já tivesse visto. Como se nada fosse muito novo. Por ter andado por muitos lugares e vivido tantas coisas sem sair do meu quarto, agora finalmente vendo "de verdade e se mexendo" o mundo, não me deslumbro, não me fascino. Prefiro os livros. 

sexta-feira, fevereiro 11, 2011

164 anos de Thomas Edison

Thomas Alva Edison (MilanOhio11 de Fevereiro de 1847 — West OrangeNova Jérsei,18 de Outubro de 1931)[1] foi um inventor e empresário dos Estados Unidos que desenvolveu muitos dispositivos importantes de grande interesse industrial. O Feiticeiro de Menlo Park (The Wizard of Menlo Park), como era conhecido, foi um dos primeiros inventores a aplicar os princípios da produção maciça ao processo da invenção.
Em sua vida, Thomas Edison registou mais de 1000 patentes,[1] sendo amplamente considerado o maior inventor de todos os tempos. Não apenas mudou o mundo em que vivia, suas invenções ajudaram a criar outro muito diferente: este em que vivemos hoje. Ofonógrafo foi só uma de suas invenções. Outra foi o cinetógrafo, a primeira câmera cinematográfica bem-sucedida, com o equipamento para mostrar os filmes que fazia. Edison também transformou o telefone, inventado por Alexander Graham Bell, em um aparelho que funcionava muito melhor. Fez o mesmo com a máquina de escrever. Trabalhou em projetos variados, como alimentos empacotados a vácuo, um aparelho deraios X e um sistema de construções mais baratas feitas de concreto. Acima de tudo, foi ele quem ajudou a trazer a civilização da Era do Vapor para a Era da Eletricidade.
Entre as suas contribuições mais universais para o desenvolvimento tecnológico e científico encontra-se a lâmpada elétrica incandescente, o gramofone, o cinescópio oucinetoscópio, o ditafone e o microfone de grânulos de carvão para o telefone. Edison é um dos precursores da revolução tecnológica do século XX. Teve também um papel determinante na indústria do cinema.

Biografia 

Thomas Alva Edison nasceu numa família da classe média, a 11 de fevereiro de 1847,em Milan OhioEUA. O pai, Samuel Edison, canadense de origens holandesas, usa a mão ao que pode: vende bugigangas, é marceneirocarpinteiro, negociante de imóveis. A mãe, Nancy Eliot Edison, ex-professora canadense, tem a cargo sete crianças, das quais três falecem ainda pequenas. Thomas é o mais novo, e, por isso, sua mãe lhe dedica especial atenção.
Em 1853 , a família mudou-se para Port Huron. Na escola, a única da cidadezinha, o rapaz tinha problemas. Seu professor, o padre Engle, dizia que ele "tem o bicho no corpo, que é um coça-bichinhos estúpido, que não pára de fazer perguntas e que lhe custa a aprender". Além disso, o garoto recusava-se a fazer as lições. Vão-se três meses de aulas e Thomas Edison deixa a classe. Nunca mais voltaria a freqüentar uma escola. A mãe toma a seu cargo a educação do menino e ele, por seu lado, aprende o que mais lhe interessa. Acaba por devorar todos os livros da mãe com temas sobre ciência. Monta um laboratório de química no sótão e, de vez em quando, faz tremer a casa.
Arranja, entretanto, um emprego como ardina no comboio que faz a ligação entre Port Huron e Detroit. Vende jornais, sanduíches, doces e frutas dentro dos trens. O guarda da estação local deixa-o guardar os doces e os jornais num vagão vazio. Sobrava tempo para leituras e para experiências no laboratório que, sorrateiramente, Edison havia instalado num dos vagões (certa vez, o vagão pegou fogo devido às experiências que lá empreendera). Agravam-se os problemas que tem com os ouvidos e ele fica surdo.
Aprendeu o código Morse e construiu telégrafos artesanais. Havia mais tarde de apelidar como "Dot" (ponto) a filha e "Dash" (traço) o filho. Frequentava um curso e tornanava-se telegrafista na terra natal. Mas, como não dispensa a companhia dos instrumentos, provoca outro acidente e quase faz explodir o gabinete.
Durante cinco anos trabalhou por toda a parte. Aproveitou um emprego que tinha, à noite, para se entreter com as suas engenhocas. Para evitar surpresas (às vezes mete-se a dormir), inventa um sistema elétrico que envia de hora a hora um sinal aos vigilantes. Inventa também uma ratoeira elétrica para caçar os ratos no quarto da pensão.
Edison registrou seu primeiro invento - uma máquina de votar, pela qual ninguém se interessou - quando tinha 21 anos. Muda-se para Nova Iorque em 1869 para se estabelecer como inventor independente. Chega esfomeado e sem dinheiro. Dois anos mais tarde, inventou um indicador automático de cotações da bolsa de valores. Vendeu-o por 40 mil dólares e ainda assinou um contrato com a Western Union, situação que lhe permitiu estabelecer-se por conta própria em Newark, subúrbio de Nova York.
No Natal de 1871, casou-se com uma jovem de 16 anos, Mary Stilwell, uma de suas empregadas, que era perfuradora de fitas telegráficas. Ele a pediu em casamento batendo uma moeda em código morse. Diz-se que, terminada a cerimônia, o noivo esqueceu as núpcias, enfiou-se na oficina e de lá só voltaria de madrugada. Mary morreria doze anos depois, de febre tifóide. Edison se casaria mais uma vez, com Mina Miller. Nos dois casamentos, teve seis filhos, três de cada um.
Em 1876, já famoso, a grandeza de seus recursos e a amplitude de suas atividades motivaram a construção de um verdadeiro centro de pesquisas em Menlo Park. Era quase uma cidade industrial, com oficinas, laboratórios, assistentes e técnicos capacitados. Nessa época, Edison chegou a propor-se a meta de produzir uma nova invenção a cada dez dias. Não chegou a tanto, mas é verdade que, num certo período de quatro anos, conseguiu patentear 300 novos inventos, o que eqüivale praticamente a uma criação a cada cinco dias.
Em 1877 inventou o fonógrafo. O aparelho consistia em um cilindro coberto com papel de alumínio. Uma ponta aguda era pressionada contra o cilindro. Conectados à ponta, ficavam um diafragma (um disco fino em um receptor onde as vibrações eram convertidas de sinais eletrônicos para sinais acústicos e vice-versa) e um grande bocal. O cilindro era girado manualmente conforme o operador ia falando no bocal (ou chifre). A voz fazia o diafragma vibrar. Conforme isso acontecia, a ponta aguda cortava uma linha no papel de alumínio. Quando a gravação estava completa, a ponta era substituída por uma agulha; a máquina desta vez produzia as palavras quando o cilindro era girado mais uma vez. Thomas Edison trabalhou nesse projeto em seu laboratório enquanto recitava a conhecida canção infantil "Maria tinha um carneirinho" (Mary had a little lamb), e reproduzia-a.
Em 1878, com 31 anos, propôs a si mesmo o desafio de obter luz a partir da energia elétrica. Outros pesquisadores já haviam tentado construir lâmpadas elétricas. Nernst e Swan, por exemplo, haviam obtido alguns resultados, mas seus dispositivos tinham vida bastante curta.
Edison tentou inicialmente utilizar filamentos metálicos. Foram necessários enormes investimentos e milhares de tentativas para descobrir o filamento ideal: um fio de algodão parcialmente carbonizado. Instalado num bulbo de vidro com vácuo, aquecia-se com a passagem da corrente elétrica até ficar incandescente, sem porém derreter, sublimar ou queimar. Em 1879, uma lâmpada assim construída brilhou por 48 horas contínuas e, nas comemorações do final de ano, uma rua inteira, próxima ao laboratório, foi iluminada para demonstração pública.
Edison ainda aperfeiçoou o telefone (com o microfone a carvão empregado até hoje), o fonógrafo, e muitas outras invenções. Em conjunto, essas realizações modificaram os hábitos de vida em todo o mundo e consagraram definitivamente a tecnologia. Thomas Alva Edison morreu a 18 de outubro de 1931.

Inventos


O fonógrafo de Edison
Em 1868 patenteia seu primeiro invento, um contador automático de votos. Dois anos depois, funda uma empresa em NewarkNova Jersey. Inventa um equipamento electromecânico que transmite telegraficamente as cotações da bolsa de valores. Enriquece com a comercialização do aparelho e inventa outros dispositivos sem aplicações comerciais. Cria um aparelho que facilita as transmissões em código morse: uma pena elétrica que simplifica a duplicação em mimeógrafo. O microfone de carvão, outro invento, torna possível as transmissões telefônicas.
Muda-se para Menlo Park, Nova Jersey. Diversifica suas pesquisas, abordando as mais diversas tecnologias. Aplica-se na investigação em telefonia, aperfeiçoa o fonógrafo, cria a primeira lâmpada incandescente com filamento de carvão. Trabalha já com uma grande equipe de profissionais, constrói o primeiro dínamo de alta potência. Patenteia muitas invenções, como o gerador de alto vácuo para a fabricação de lâmpadas, o contador de electricidade, o regulador de corrente para máquinas de soldar elétricas.

Fotografia de Thomas Edison
Em outubro de 1879 a Edison Eletric Light Company é já uma potência económica dominando a época da electricidade nos Estados Unidos. Patenteia a lâmpadaincandescente de filamento fino de carvão a alto vácuo. O produto, devido à nova tecnologia, permite aumento substancial da vida útil do produto. Em 1883, após ter descoberto o efeito Édison, regista o primeiro dispositivo termiónico, um díodo termiônicoou válvula de Edison, precursora da válvula de rádio, ou válvula termiônica.
Edison General Eletric é fundada em 1888. Será um dos maiores conglomerados industriais do planeta. Fabrica todos os tipos de dispositivos elétricos, como geradores,motores, gigantescas válvulas solenóides. A empresa transforma-se num dos maiores fabricantes multinacionais.
Durante a Primeira Guerra Mundial, a General Eletric entra no campo de metalurgia naval, produzindo gigantescas máquinas e novos equipamentos para os navios construídos em diversos estaleiros americanos. A GE entra no ramo da indústria química, aperfeiçoando os métodos de fabrico de novos produtos e substâncias.
Edison é considerado um dos inventores mais prolíficos do seu tempo, registrando 1093patentes em seu nome. A maioria desses inventos não é completamente original, mas as patentes compradas por Edison são melhoradas e desenvolvidas pelos seus numerosos empregados. Edison tem sido criticado por não compartilhar os seus créditos.
Sendo ateu, por vezes dava respostas irônicas aos jornalistas, como quando lhe perguntaram se acreditava em comunicação com espíritos: "Não, não acredito. Mas se eu fosse um espírito, encontraria uma maneira mais inteligente e menos precária de me comunicar com os homens."

Inventos cinematográficos

Thomas Edison teve um papel determinante no surto da indústria do cinema. São estes os aparelhos que inventou ou lançou no mercado:
  • Cinetógrafo (Kinetograph): máquina de filmar
  • Cinescópio ou Cinetoscópio (Kinetoscope): caixa com imagens filmadas vistas no seu interior
  • Cinefone (Kinetophone): versão do cinescópio com som síncrono gerado por umfonógrafo
  • Vitascópio (Vitascope): projector de filmes em tela

Filmes de Thomas Edison

Mudos


Thomas Edison inspecionando um carro elétrico em1913.

Thomas Edison usando o Telefone.
  • 1895The Execution of Mary Stuart
  • 1896Fatima's Coochee-Coochee Dance
  • 1896: Blackton Sketches, No. 3
  • 1896: Blackton Sketches, No. 2
  • 1897Butterfly Dance
  • 1898The Passion Play of Oberammergau
  • 1903Electrocuting an Elephant
  • 1904Parsifal
  • 1910Frankenstein or the Modern Prometheus
Frankenstein1910.jpg
  • 1911Lucia di Lammermoor

Sonoros

  • 1913Nursery Favorites
  • 1913: A Minstrel Show
  • 1913: The Irish Policeman
  • 1913: Her Redemption
  • 1913: Julius Caesar
  • 1914The Patchwork Girl of Oz

domingo, fevereiro 06, 2011

Vida Virtual? Quase 10 anos de Digestivo

Andrea Trompczynski
Há dez anos eu era uma menina inocente. Do tipo que ainda lia Gabriel García Márquez e achava que a literatura eram os livros. Conservadora, ainda não tinha conhecimento do que era a crítica ou a boa discussão. Ainda não havia tido grandes pensamentos, grandes opiniões sobre as coisas. Ah, eu era tão feliz, ia à Igreja aos domingos, amava meu marido e fazia bolo de fubá à tardinha, nessas felicidades que só a ignorância pode proporcionar. Então, numa tarde, meu irmão ensina-me os primeiros passos para entrar na rede. "Você precisa conhecer, Andréa, você precisa ler isto". Eu precisava conhecer.
Comecei, então, nas incursões que iriam mudar minha vida para sempre. O primeiro lugar em que fui foi uma antiga sala de cinema, onde conheci um daqueles que hoje é meu grande amigo. Uma amizade que formou-se aos poucos, noite após noite, da sala aos e-mails, às antigas cartas, seladas e carimbadas, daí para os telefonemas e, a chamada pelos especialistas, vida real. Tremíamos os dois, habituados ao quarto fechado e o computador, no primeiro encontro. Rimos, achando tudo aquilo muito nonsense e nos abraçamos numa rodoviária de cidade do interior. Um abraço que dura até hoje.
O irmão insistia, aos brados, que eu precisava conhecer aquele site de nome estranho, o Digestivo Cultural. Relutei, por um tempo, afeita que estava ao bate-papo virtual, como todos já estivemos um dia. Cultural? Eu pensava que haveria lá um bando de senhores resmungões escrevendo didaticamente sobre as artes, a cultura. Curiosa, já em 2001, num certo dia em que meus amigos ainda não haviam chegado na sala para que matássemos novamente a pedradas o cinema iraniano ou para que pudéssemos incensar Barbarella, nas delícias de pensar sermos os donos de toda a verdade, entrei pela primeira vez neste que seria o meu primeiro guia em meio a uma cegueira da qual eu ainda não tinha conhecimento.
Li um texto do Julio Daio Borges e comentei; qual não foi minha surpresa quando ele, rapidamente, respondeu. Doce e inocentemente, como eu, à época. Conversávamos os dois, jovens e ainda um pouco idealistas, sobre livros e a vontade de escrever. Ah, então era assim? Poderíamos conversar com o autor? Discordar, trocar idéias e opiniões? Que novidade! Para mim, autores eram aquelas figuras casmurras das noites de autógrafos, e, pobrezinha de mim, eu nem sequer imaginava, à época, que havia autores da minha idade. Comecei a ler os colunistas, primeiro, o Alexandre Soares Silva, já falando em livros que iria publicar, ensinando-me os primeiros passos para uma ironia que me acompanha até hoje. O Alexandre falava, era lei; dizia que leu, eu lia. Ouviu? Ah, eu ouvia. Demorei para, lembro-me, ter a coragem de discordar do Alexandre.
Fabio Danesi Rossi. Minha relação com ele, como leitora contumaz, daria um capítulo, meus caros, um capítulo! Incitava-me a discordar da minha professora de literatura, "meu gosto pela leitura sobreviveu aos professores de literatura". Ver que meu santo ― minha professora era, na época, um ídolo ― tinha pés-de-barro? Deus! E era ateu! E falava isso assim, como se isso fosse um "bom dia", o que, para mim, acostumada à vidinha católica provinciana, era um palavrão. Hoje, sem fé que sou, o que causa a estranheza e olhares piedosos das pessoas, o releio, compreendendo.
E como releio... Releio, quase que diariamente o Paulo Polzonoff Jr. Vi aquela fotografia, em sua apresentação, que não é mais a mesma de hoje, do menino de semblante triste, óculos, sentado à uma mesa de um bar. A fotografia era de uma solidão tremenda. Se alguém me perguntasse hoje qual meu texto favorito, direi hoje e diria sempre que foi o "Está Consumado", coluna histórica do Digestivo Cultural, que, à época, causou frisson nos mais moralistas, caindo como uma bomba: "este texto não é recomendado para quem faz uso contínuo de antidepressivos". E seguia o Paulo me guiando pelo labirinto da solidão, pelo labirinto da descoberta de nós mesmos.
Luis Eduardo Matta, meu caríssimo. Quanto devo à você. Imaginem vocês se a clássica menininha algum dia gritaria contra James Joyce, imaginem vocês se a conservadora guria algum dia defenderia o direito de ler escondido Agatha Christie. Não mais colocar sobre o exemplar de algum livro do Frederick Forsyth uma capa falsa de Ulisses, para levar ao parque e impressionar as senhoras bordadeiras. Ao LEM, obrigada. Hoje eu leio você sem culpa. E posse falar que leio você sem medo. Tenho até disso um certo orgulho iconoclasta. Posso lhe escrever agora, ou deixar um scrap no seu Orkut, contando-lhe o único desejo verdadeiro que tenho hoje: por favor, não mate a Evelyn Wakim! Que morra oLeopold Bloom, mas não a Evelyn Wakim. E eu sei que você irá responder.
Ontem, eu procurava meu próprio nome no Google, sim, sim, tenho essa torpeza de espírito. Num fórum havia um leitor um pouco empolgado que me colocava como parte de "uma geração da internet brasileira". Juntamente com todos que citei acima. Exagero, é claro, já que eu mesma escrevi pouco por perder muito tempo andando pelo mundo procurando a mim mesma. No mundo, eu pedia ao querido irmão que me enviasse as páginas impressas do Digestivo Cultural. E eu as lia, desesperada pela distância que separava-me de meu computador e meu riquíssimo "quarto de livros", em beliches e camas e sofás de casas de amigos pelo mundo.
Falaremos do Digestivo, todos nós, daqui a muitos anos. Começamos quase todos aqui, seja em colunas, em participações antigas, links para os blogs, comentários que valem por uma coluna. Uma geração que se iniciou há dez anos, vivenciamos o boom da internet, aprendemos a pensar, criticar, discutir. Olhando para trás, para esses dez anos, concordo com o empolgado leitor: faço, sim, parte dessa geração. Ah, amigo verdadeiro e real, amores que morreram tragicamente, inimigos fiéis e até, pasmem!, uma filha.

Sento-me aqui em frente ao meu computador. Leio, converso, amo, vivo. Quem disse que isso é vida virtual?
Andrea Trompczynski ® 2011

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Andrea Trompczynski – O livro é um prazer sensorial para mim. Capas antigas, o cheiro, anotações. Meu sonho de consumo é uma primeira edição de Finnegan's Wake, com anotações, nas margens, da Lígia Fagundes Telles. Não há arte maior que a literatura. Não há arte mais intensa e nem mais difícil. É a única e verdadeira arte. Escrever. Vou em teatro, ouço música, sim. Mas até a HQ para mim está acima da música. Não adianta. No princípio era o verbo. Os homens são minha forma favorita de design. Não a humanidade, os homens. Anti-feminista convicta, acredito que as super-mulheres perdem o que há de melhor nos homens. Passei por essas fases de queimar sutiã e hoje vejo que certa estava minha avó, não se deve lutar contra a natureza. Tenho uma estranha sensação de déjà-vu quando conheço coisas novas, é sempre como se já tivesse visto. Como se nada fosse muito novo. Por ter andado por muitos lugares e vivido tantas coisas sem sair do meu quarto, agora finalmente vendo "de verdade e se mexendo" o mundo, não me deslumbro, não me fascino. Prefiro os livros. 

quinta-feira, fevereiro 03, 2011

O livro das horas da Praça do Ferreira

Capa: O Livro das Horas...
Jarbas Oliveira e  José Mapurunga fotografaram e escreveram   "O livro das horas da Praça do Ferreira". Uma homenagem a Fortaleza, vista por um de seus lugares mais pitorescos.
Jarbas Oliveira é fotógrafo, com trabalhos publicados nos principais jornais e revistas do país; Mapurunga é um escritor que teve a sorte de nascer numa das cidades mais simpáticas do Ceará: Viçosa – mas decidiu  ganhar o mundo.
Jarbas captou com sua lente; Mapurunga autenticou com o seu texto a trupe de vendedores ambulantes, trabalhadores, desocupados, artistas de rua e  párias sociais de diversas categorias: a mulher do cafezinho, o vendedor de algodão doce, os evangélicos, os jogadores de porrinha, o homem que descasca cocos com os dentes,  os jovens comerciários – frequentadores que batem ponto no chão ou no banco da praça: o velho Valmir, o jornaleiro Paixão, o João Engraxate, o Nietzsche, o Deputado, o poeta Mário Gomes. O livro foi lançado em 2009, na Praça do Ferreira, com projeção das fotos.  Trata-se de obra patrocinada pela Secretaria de Cultura do Município, em homenagem ao aniversário da cidade.
Praça do Ferreira 
Foto panorâmica da Praça do Ferreira
É uma praça da cidade de Fortaleza. Seu nome é referência ao Boticário Ferreira que em 1871, enquanto presidente da câmara municipal, fez uma reforma na área e urbanizou o espaço. Desde 2001, após pesquisa popular, a praça do Ferreira foi oficialmente declarada Marco Histórico e Patrimonial de Fortaleza pela lei municipal 8605 de 20 de dezembro de 2001. Na praça do Ferreira, aglutinaram-se grandes empreendimentos e grandes eventos da sociedade e da cultura fortalezense durante o final do século XIX até a metade do século XX quando a cidade passou por uma expansão urbana e pela criação de outros pólos de desenvolvimento. Em 30 de janeiro de 1942 o Sol foi vaiado por um grupo de pessoas na praça depois de 2 dias de tempo nublado e chuvas. O ano de 1942, foi de estiagem no Ceará
Em 1839 era apenas um campo de areia com um grande poço no centro, alguns cajueiros, rodeada de casebres, onde se destacava apenas os sobrados do comendador Machado, construído em 1825 e o do Pacheco, de 1831, que depois foi sede da Municipalidade. O prédio do Ensino Mútuo ficava na esquina onde hoje fica a Caixa Econômica Federal. Havia na praça o "beco do cotovelo", com casas em diagonal, que foi derrubado por Antônio Rodrigues Ferreira, o boticário Ferreira que, em 1842 foi eleito presidente da Câmara Municipal e como tal aumentou as ruas de Fortaleza, dando-lhes um traçado antes defeituoso. Acabou com o "beco do cotovelo" criando a praça que em 1871passou a denominar-se do Ferreira. Desde então a praça teve as seguintes denominações: Feira-Nova, Pedro II, e da Municipalidade.
No dia 7 de setembro de 1902 houve sua primeira urbanização, pelo intendente Guilherme Rocha, com a construção de um jardim em cujo centro ficava a Avenida que então passou a denominar-se Jardim 7 de setembro, rodeada por colunas de concreto e grades de ferro, ocupando pequeno espaço em frente ao hoje cine São Luiz. Foi construido também cinco artísticos quiosques que abrigavam quatro cafés e um servia de posto de fiscalização da Companhia de Luz. Ali existiam também os célebres frades de pedra, feitos de pedra de lioz vinda de Portugal, com argolas, onde se amarravam os animais. Havia também, no centro do jardim, uma caixa d’água e um catavento, que puxava água para aguar os jardins. Em 1892 um dos cafés foi palco do movimento literário “Padaria Espiritual”.
O prefeito Godofredo Maciel fez uma reforma em 1920 que retirou os quiosques, mosaicou toda a praça e também tapou o poço, fazendo vários jardins e colocando em seu centro um coreto sem coberta, onde a banda da Polícia executava às quintas-feiras suas afamadas retretas. Em 1923 foi colocado outro coreto, este coberto.
Em 1933 Raimundo Girão derrubou o coreto e levantou a Coluna da Hora em estilo “Art Dèco” de cimento e pó de pedra”. Com os festejos pelo fim da Segunda Guerra Mundial em 1945 a praça passou ser considerada e batizada de “Coração da Cidade”. No dia 15 de novembro de1949 o Abrigo Central foi inaugurado, pelo prefeito Acrísio Moreira da Rocha. Concebido inicialmente como terminal de ônibus, fez parte da história de Fortaleza. Poucas pessoas lembram de um centro comercial que funcionava, ininterruptamente, ao norte da Praça do Ferreira da década de 1950, onde antes existia o prédio da Intendência Municipal, bem à frente do prédio do hotel Savanah.
Durante o ano de 1966 o prefeito Murilo Borges, sem nenhuma consulta popular e sob alegativa de que o abrigo estava para ruir, iniciou uma reforma que derrubou a Coluna da Hora e o Abrigo Central. Em 1968 foram encontradas duas urnas no subsolo da praça, uma de 1936contendo moedas, cartas e jornais de época. A reforma terminou em 1969, deixando a praça totalmente diferente. Nessa época a praça teve instalações subterrâneas e que abrigaram a Galeria Antônio Bandeira até sua última reforma.
Em 1991, o poço foi recuperado, quando da última reforma pela qual a Praça passou na gestão de Juraci Magalhães. Descoberto o poço, ele foi mantido e novamente erguida a Coluna da Hora em estilo semelhante a primeira com projeto contemporâneo dos arquitetos Fausto Nilo e Delberg Ponce de León.
Em 2001, a Praça do Ferreira foi escolhida como ícone da cidade. A escolha foi fruto de uma promoção da campanha “Eleja Fortaleza - Declare seu amor pela cidade”, criada pelo Banco Itaú em parceira com o Sistema Verdes Mares.
Eles resolveram traduzir a filosofia da figura essencial da Praça do Ferreira, o poeta Mário Gomes:
“A verdade da vida é compreender a loucura do outro”.

Poeta Mário Gomes

Mário Gomes (Arquivo Vicente Freitas)
Conheci o poeta Mário Gomes, na casa de Juvenal Galeno. Na época, havia lá, o Clube dos Poetas Cearenses, fundado pelo Carneiro Portela. Logo fizemos amizade, e foi assim, na companhia do Mário, que conheci Fortaleza. Todos os recantos da cidade, com certeza. Sua casa, seu escritório: A Praça do Ferreira. Hoje, Mário Gomes, perambula pelas ruas, como um mendigo embriagado. Essa é a vida que leva desde muito tempo. Segundo Márcio Catunda – autor da biografia do poeta – Mário Gomes é uma espécie de "édipo bêbado" a perambular pelas ruas da cidade. Seu compromisso radical é com a máxima liberdade possível. No entanto, o poeta pagou caro por isso: Foi submetido a quase todos os métodos de tortura e violência. No hospício de Parangaba, levou 12 choques elétricos, aos 20 anos de idade. Nessa época de viagens, prisões e recolhimentos em manicômios, já começara a se tornar o boêmio da Praça do Ferreira, onde rabiscava, até mesmo em carteiras de cigarro, seus poemas. Aos 63 anos de idade, o poeta é lenda viva de Fortaleza. Dizem que pirou de vez depois da morte da mãe, mas eu que o conheço, de muito tempo, sei que não. Na mesa do bar do Dragão do Mar resmunga sempre: todo artista tem que ser louco… Veja um de seus poemas.
AÇÃO GIGANTESCA

Beijei a boca da noite
E engoli milhões de estrelas,
Fiquei iluminado.
Bebi toda a água do oceano,
Devorei as florestas...
A Humanidade ajoelhou-se aos meus pés,
Pensando que era a hora do Juízo Final.
Apertei, com as mãos, a terra,
Derretendo-a.
As aves, em sua totalidade,
Voaram para o Além.
Os animais caíram no abismo espacial.
Dei uma gargalhada cínica
E fui descansar na primeira nuvem
Que passava naquele dia,
Em que o sol me olhava assustadoramente.
Fui dormir o sono da eternidade
E me acordei mil anos depois,
Por detrás do Universo.