domingo, abril 29, 2012

Morre o poeta, escritor e político Barros Pinho


Barros Pinho tinha 72 anos e era atual presidente da Fundação Cultural de Maracanaú e vice da Academia Cearense de Letras
FOTO: DENISE MUSTAFA (20/09/2007)
Internado desde a última segunda-feira, o romancista sofreu um infarto na sexta e não resistiu
Faleceu, na manhã deste sábado, por complicações oriundas de um infarto, o ex-prefeito de Fortaleza e atual presidente da Fundação Cultural de Maracanaú, José Maria Barros de Pinho. O enterro será neste domingo, às 10h30, no cemitério Parque da Paz. Poeta e escritor, tinha 72 anos e estava internado na Gastroclínica desde a última segunda-feira com um quadro de hipertensão.

Para o presidente da Academia Cearense de Letras, Pedro Henrique Saraiva Leão, esta é uma perda para o cenário cultural, em virtude do grande romancista, intelectual e poeta que foi.

Atual vice-presidente da Academia, e cotado para ser o próximo presidente, Barros Pinho muito contribuiu para a entidade, segundo Pedro Henrique, estando entre um de seus feitos a colaboração para a aprovação de uma a Lei estadual que fornece apoio financeiro para a Academia, mantendo assim a sua conservação e a manutenção. "É uma grande perda para a intelectualidade cearense", resume.

O ex-governador do Estado, Lúcio Alcântara, afirma que Barros Pinho foi um homem de luta, mas ao mesmo tempo um romântico, cumprindo papel importante na política cearense. "Muitas vezes tivemos em campos opostos, mas nossa amizade nunca sofreu. Ele deixa uma obra que permanecerá entre nós como um marco de sua passagem na Terra", diz.

"Atuando pelo brilho de sua inteligência, sempre teve uma conduta exemplar em prol de uma valorização política e intelectual do País e nunca deixou de defender suas teses, sempre levando a debate questões de grande importância", afirma o deputado federal Mauro Benevides, que ligou para se manifestar.

José Maria Barros de Pinho nasceu em Teresina, em 25 de maio de 1939. Era político, poeta, e contista. Foi vereador em Fortaleza pelo MDB, de 1979 a 1982; deputado estadual pelo PMDB entre 1983 e 1990; prefeito de Fortaleza de 1985 a 1986; e também presidente da Fundação de Cultura, Esporte e Turismo (Funcet) e do Instituto de Previdência do Município (IPM). Como poeta, destacou-se por diversas obras publicadas.

Diário do Nordeste

segunda-feira, abril 23, 2012

Bença, Padre!


 Padre José Aristides Cardoso  
Dezembro de 1944. A paróquia de minha cidade acabava de ganhar um novo pároco. Era jovem. Vestia uma longa batina preta que imprimia respeito e reverência, emprestando um ar de distância entre uma pessoa eclesiástica e a comum.
Há muito, tinha vontade de escrever algo sobre esse sacerdote católico, que tive o prazer de conhecer quando eu era ainda criança, sim, porque na época, só contava cinco aninhos. Refiro-me ao Padre José Aristides Cardoso, nascido em Guaraciaba do Norte, na serra da Ibiapaba. Por coincidência, li uma reportagem sobre ele na revista “Acaraú pra Recordar” e resolvi por em ação o meu intento. Aliás, foi também uma coincidência para esse mesmo autor, ao ler o que escrevi sobre o Padre Aureliano, assim o disse.

Durante quatro anos, minha cidade esteve sob a orientação espiritual do Padre Cardoso, que exercia seu apostolado com dedicação e competência, não só no âmbito da Igreja, na evangelização, como na área da educação, melhorando a qualidade do ensino dos colégios que já existiam.

Lembro que, por algum tempo, os atos religiosos estavam sendo celebrados na Igreja de São Francisco, em cuja praça meus pais alugaram uma casa. Ainda hoje é a Praça de São Francisco, querida pelos massapeenses. E foi aí que conheci o novo vigário. Além de missas, confissões e demais responsabilidades exercidas na Igreja, todos os sábados à tarde, reunia as pessoas na Gruta de Nossa Senhora de Lourdes, ao lado da Igreja, para rezarem o Ofício de Nossa Senhora. Quando o inverno demorava a chegar, rezava-se também um terço para que as chuvas descessem. O cântico era mais ou menos assim: “Meu Jesus, aos Vossos pés/ A miséria nos conduz/ Pelas Vossas cinco chagas/ Dai-nos chuva, meu Jesus./ Pela Hóstia Consagrada / Pelo Cálice de amargura/ Dai-nos chuva o quanto baste/ Para sempre amém, Jesus/. Era mais extenso, mas no momento, só lembro essas estrofes. Após as preces, ao voltar para a casa paroquial, uma porção de meninos e meninas corria em direção a ele. “Bença, Padre!” Todos queriam beijar a mão do Padre que os abençoava sorrindo. Para tristeza dos nativos, o virtuoso pároco permaneceu em Massapé somente até Dezembro de 1948.

Ano de 1952. No início de fevereiro, o Padre Cardoso fora transferido para São Benedito, no planalto da Ibiapaba, como coadjutor do Padre Coutinho, o vigário na época. Por coincidência, fui para lá no dia 02 do mesmo mês e do mesmo ano, estudar no colégio interno dirigido pelas Irmãs de Caridade. Poucos dias após a minha chegada, encontrei com ele e Irmã Superiora em uma das galerias. Estava visitando a escola porque havia chegado à cidade recentemente e passara a ser o Capelão do colégio. Ao ver-me, olhou admirado como se estivesse conhecendo. Mas nada falou. Claro! Eu já estava com 12 anos de idade, quatro a mais de quando ele deixara minha terra, portanto, um pouco diferente. Além do currículo do curso Complementar, fiz o curso de música instrumental e um ano depois (1953), toquei minha primeira novena de maio no harmônio da Capela, por ausência da harmonista. Após o ato religioso, o padre veio e perguntou: “Quem estava tocando?” Ao apontarem para mim, indagou: “É por música?” Ao responder “Sim”, disse: “Muito bem!... Vá em frente! Estou reconhecendo você.” Meio tímida, falei: “Sou de Massapé e também conheço o senhor. Lembra daquelas crianças que corriam para lhe tomar a bênção, na Praça de São Francisco? Eu também estava lá.” Padre Cardoso sorriu e disse: “Como o tempo passa ligeiro!... Eram tão pequenos!”

Todo dia, às seis horas da matina, o nosso capelão entrava na capela devidamente paramentado para a celebração da Santa Missa, acompanhado do acólito, um garotinho  vestido com um longo roupão vermelho, tendo por cima uma bata enfeitada com rendas brancas e estava ali para ajudar na cerimônia da liturgia, responder ou completar o que o sacerdote dizia durante o ato religioso, tudo em Latim. Os dois permaneciam de frente para o altar. Somente quando o sacerdote dizia “Dominus Vobiscum” (O Senhor esteja convosco), virava-se de frente para as pessoas. E o acólito respondia: “ET cum spiritu tuum” (E com o teu espírito). Também na hora em que dava a bênção e dizia: “Ite, Missa est” (Ide, a Missa continua). Nestas ocasiões, mantinha os olhos sempre voltados para o céu. O internato do meu colégio era formado só de mulheres. Quando raramente entrava um homem, era padre, frade ou pai de aluna. Uma aluna, em um dia de estresse, disse aborrecida: “Como é que pode! O homem que entra aqui é o padre, usa um saião e só olha pra cima!”  

Seus sermões eram eloqüentes e demonstravam conhecimento profundo de teologia. Simplicidade, recolhimento, dinamismo e seriedade faziam dele um sacerdote nota dez, dentro dos padrões da religião católica. Ministrava aulas de Formação Religiosa no meu colégio e lecionava também no Ginásio São Benedito, só para homens. Dotado de criatividade, procurava tornar agradáveis e solenes as festas comemorativas do colégio e da paróquia. Em uma das cerimônias de término do mês de maio, no pátio da escola, uma chuva fina caiu de repente. Ele, porém, pedia em voz alta: “Por favor, não saiam de seus lugares! São as graças que Maria está enviando sobre nós!” Enquanto isso, uma aluna coroava a Mãe de Deus. Confesso que foi um momento emocionante e inesquecível para mim, mesmo tendo que agüentar uma chuvinha, à noite, no frio da Serra Grande.

A música era uma qualidade do nobre sacerdote, em que demonstrava habilidade: dirigia corais e tocava com maestria a flauta transversa. Por ocasião da Missa de ordenação de um padre filho de São Benedito, cantei o solo de uma “Ave - Maria”, acompanhada por ele na flauta. Tinha de segurar quatro compassos de quatro tempos musicais cada um. Haja fôlego! Passamos uma tarde ensaiando, repetindo até que não houvesse possibilidade de erros. No dia em que terminei o Curso Normal, Padre Cardoso fez parte da mesa das autoridades juntamente com o Bispo Dom José Bezerra Coutinho. Àquelas alturas, deixaria de ser o Capelão do meu colégio. Para ocupar seu lugar, viria o Padre Aureliano Diamantino, o querido e saudoso “Padre Leriano”.

Passados alguns anos da minha colação de grau em São Benedito , encontrei o Padre Cardoso, em Sobral. Estava em um jeep com outras pessoas, saindo de viagem. Ao ver-me, acenou e fui falar com ele. Fui logo dizendo: “Bença, Padre!” Foi a última vez que o vi.

Que as bênçãos do céu caiam sobre ele, onde quer que esteja e o conservem sempre virtuoso, pelo seu trabalho de amor a serviço de um povo mais cristão, em todas as paróquias em que exerceu ou exerce o seu apostolado.

Maria de Jesus A. Carvalho.

terça-feira, abril 10, 2012

Cumplicidade


Apaixonados,
febre feroz, vontade de armar,
amarrar as línguas, o sexo,
dois corpos num nó.

Idas e vindas,
o prazer da eternidade efêmera…
o orgasmo proibido

– explodir na cama, feito estrela. 

 Vicente Freitas 

quarta-feira, abril 04, 2012

Baratas


Versos escritos na poeira,
Juan Miró, The malancholic singer
Numa furna escura,
Para as baratas
Solitárias, sem sangue,
Escondidas, que nem ratos,
Que nem criminosos pobres,
Desde tempos imemoriais...
Bem antes dos Dinossauros,
Baratossauros.

– Quem já as viu não as amou.

Traduzo a tristeza das baratas,

Alguma sombra de compaixão
Pelos animais, os insetos.

Meus pobres versos corroídos
Pois que fiquem esquecidos

Onde as baratas os atirou.

– A barata e eu, os excluídos.

Vicente Freitas


terça-feira, abril 03, 2012

Um poeta diante da sua musa

Il Yous Aime, c'Est un SecretArt, 
de David Graux

Alma cheia de sonhos,
Supostos mistérios,
Flash de sombras; luz?
Sinto, no teu olhar aquém do meu,
Mil e uma divagações possíveis.

A lua, no céu de bronze,
A lua é ruiva, em teu cabelo,
Não, simplesmente, satélite.

E eu aqui, um poeta diante da sua musa,
Consigo, em silêncio,
Viver e jurar amor,
Mesmo que, de repente, um cataclismo
Balance o meu coração…

E, num retrospecto anunciado,
Que venha a aurora…
– Amanhecer; amanheceu.

Vicente Freitas